sábado, 30 de janeiro de 2010

A Genialidade da Multidão por Charles Bukowski

A Genialidade da Multidão

Há bastante deslealdade, ódio,
violência,
Absurdo no ser humano comum
Para suprir qualquer exército em qualquer dia.
E O Melhor No Assassinato São Aqueles
Que Pregam Contra Ele.
E O Melhor No Ódio São Aqueles
Que Pregam AMOR
E O MELHOR NA GUERRA
--FINALMENTE--SÃO AQUELES QUE
PREGAM
PAZ

Aqueles Que Pregam DEUS
PRECISAM de Deus
Aqueles Que Pregam PAZ
Não têm paz.
AQUELES QUE PREGAM AMOR
NÃO TÊM AMOR
CUIDADO COM OS PREGADORES
Cuidados com os Sabedores.

Cuidado
Com Aqueles Que
Estão SEMPRE
LENDO
LIVROS

Cuidado Com Aqueles Que Detestam
Pobreza Ou Que São Orgulhosos Dela

CUIDADO Com Aqueles Que Elogiam Fácil
Porque Eles Precisam De ELOGIOS De Volta

CUIDADO Com Aqueles Que Censuram Fácil:
Eles Têm Medo Daquilo Que Não Conhecem

Cuidado Com Aqueles Que Procuram Constantes Multidões; Eles Não São Nada Sozinhos

Cuidado
Com O Homem Comum
Com A Mulher Comum
CUIDADO Com O Amor Deles

O Amor Deles É Comum, Procura O Comum
Mas Há Genialidade Em Seu Ódio
Há Bastante Genialidade Em Seu
Ódio Para Matar Você, Para Matar
Qualquer Um.

Sem Esperar Solidão
Sem Entender Solidão
Eles Tentarão Destruir
Qualquer Coisa
Que Seja Diferente
Deles Mesmos

Incapazes
De Criar Arte
Eles Não Irão
Compreender Arte

Eles Vão Considerar Sua Falha
Como Criadores
Apenas Como Uma Falha
Do Mundo

Incapazes De Amar Completamente
Eles Vão ACREDITAR Que Seu Amor É
Incompleto
E ELES VÃO ODIAR
VOCÊ

E Seu Ódio Será Perfeito
Como Um Diamante Brilhante
Como Uma Faca
Como Uma Montanha
COMO UM TIGRE
COMO Cicuta

Sua Mais Fina
ARTE

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Freud explica o bagulho doido. "Sábias Palavras" Tenho dito!

Segundo alguns psicanalistas quando se apaixona você não se relaciona com alguém de carne e osso, mas com uma projeção criada por você mesmo e a projeção que fazemos é a de um ser completamente perfeito. Mas depois de um período a projeção acaba e você passa a enxergar de verdade a pessoa com que está se relacionando invariavelmente algumas virtudes do parceiro ou da parceira vão embora com a projeção...

Outras ficam...

... E se o que ficou de cada um for suficiente para os dois, a relação perdura.

Caso contrário... Ninguém sabe o que faz o botãozinho ligar e iniciar uma nova projeção.

O amor é inexplicável.
mas tem coisas que você pode entender...
Sigmund Freud

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Álvaro de Campos trecho Lisbon Revisited

" Sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?"

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Males

Entendo de qualquer mal, só não entendo do meu próprio mal.
A mentira é uma coisa feia, a traição é totalmente condenável e as conclusões são só minhas, mas o que fazer com elas se eu também minto e também traio. Mas quando essas vêm contra mim sinto raiva e fico me sentindo injustiçada. Coloco tudo isso numa linha mais racional e me julgo errada também, mas pra mim mais errado é sempre o outro. Justifico que fiz porque tinha motivos relevantes, pois vivo juntando tudo o que as pessoas falam e comparando com o que fazem ou com o que depois negam, faço coleção de contradições, de pequenas mentiras e chego à conclusão de que me enganam. Todo mundo engana, mas ninguém quer ser enganado e muito menos ser descoberto.
O pior nisso tudo é a dúvida, a vontade de ter feito diferente e o resultado de que algo irreversivelmente quebrou não importa mais o que aconteça.
A sensação desagradável de não ter e ter razão, a lembrança de já ter feito diferente e mesmo assim ter sido enganado, a sensação de que não se tem resposta, não tem fórmula, de que ter confiança é muito simples ou muito complicado depende muito de quem vem. A confiança mora dentro de algo que não pode ser traduzido em palavras é uma coisa que eu sinto ou não, a confiança é uma conexão que se estabelece. Para ser confiável preciso me sentir à vontade.

Sábias Palavras

" Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles.
Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles.
Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração.
Como eles admiravam estarem juntos!
Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos." (Clarice Lispector)