sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Fragmentos

Antes era angústia, agora não sei dizer... Nunca sei do presente a não ser, como parte de um todo: a totalidade abrange um período muito mais amplo. O que sei do presente são fragmentos, o que sei do passado são fragmentos, conexões que  se estabelecem num decorrer de um período onde o tudo vai se estruturando aos poucos, às fatias... Tenho razão em sempre dizer que do futuro nada sei, bem porque não sei e nem ninguém sabe. Há profetas, mas haverão realmente profecias?  Continua...

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Primavera estação 35

Hoje eu decidi que iria ficar triste, que embora estivesse trabalhando com minhas múltiplas personalidades todas ao mesmo tempo, a que estaria ligada minha mente seria a da minha tristeza, eu destinei esse dia a ser secretamente triste e meu. Cuidei de cada detalhe, para que ninguém percebesse o que se passava dentro do meu dia. Porque eu resolvi fazer isso? Porque sim, porque eu sou louca é uma resposta bem simples e não estaria totalmente incorreta dependendo de quem vê. Resolvi passar esse dia triste porque por causa do medo da tristeza muita besteira eu já fiz. A cada ameaça real de que ela viria eu me submetia e assim achava que preenchia ou superava algo, mas eu só adiava; a tristeza sempre acabou por vir, por mais tempo que levasse ela acabava por vir, um dia chega ela e deu. Fim da história. Medo é um sinal de que algo deve ser reconsiderado, revisto, não me refiro a fuga, mas a revisão. Medo é sinal de dúvida. Dúvida é sinal de estranheza, aquela que nos leva a sentir que ha algo no mínimo que precisa ser re-visto, questionado. Fiz revisões na minha vida porque me vi com medo da tristeza. E senti que ela estava com os dias contados para vir e que por mais que eu pudesse, me submeter e me enganar ela implacavelmente viria e o que me faltava era justamente isso. Saber que na vida não é tudo alegria sempre, mesmo que isso seja bom e o que queremos o tempo todo. Mas entre o que queremos e a realidade existe um abismo, como se negar a notá-lo? Quem se nega a notar é parte já do abismo. Todas as vezes que eu tive medo da tristeza e não olhei com mais atenção eu acabei por não ver o abismo. Você pode ficar triste por dois motivos:

1 Fingir que não viu o abismo, se submeter, tentar transpor e cair, não por si mas pelo abismo que por imprudência ou ingenuidade você ignorou e tentou transpor no vácuo. Medo da tristeza sente-se sempre é o momento da análise.

2 Identificar o abismo, apontá-lo e aceitar sem medo a tristeza enquanto não se constroem pontes.

sábado, 15 de outubro de 2011

Olhando para o que importa

Para entender a história abaixo é necessário que eu me apresente melhor, que eu escreva aqui o que faço com mais detalhes. Bem, sou estudante de licenciatura, estou cursando o segundo semestre e tenho muito que aprender. Ainda não posso dizer que sou professora, pois nunca tive experiência em sala de aula... Um dia em aula uma colega que já leciona, disse que quando começam as aulas é uma alegria, todos os alunos estão muito felizes, com olhos brilhantes, mochilas, tênis, material tudo novinho e que no decorrer do ano o brilho do olhar deles vai se apagando e desbotando junto com o colorido das suas mochilas e que ela não entende porque isso acontece. Fiquei com essa pergunta me martelando a cabeça por dias, pois quero ser professora, mas não quero passar por isso e fui mais longe acredito que ninguém queira, nenhum professor e nenhum aluno, nenhum ser humano quer começar o ano feliz e acabar infeliz, desbotado.  Mas então o que acontece? Dias pensando em qual era a relação dessas crianças, com suas mochilas expostas ao tempo, ao período letivo. No começo do período as mochilas são novas e durante o ano vão se desbotando, pois são coisas perecíveis, coisas sem vida, coisas de carregar coisas apenas. As crianças estão felizes porque as mochilas estão novas e vão se apagando porque as mochilas ficaram velhas. Mas porque?  Para entender melhor imagine-se um milionário excêntrico que perde sua fortuna no decorrer do ano. Mas porque? Porque somos condicionados a dar valor a essas coisas, a valores invertidos. Porque na segunda quinzena de fevereiro começam as "campanhas volta às aulas" nas tevês, nos rádios, no panfleto na esquina, no outdoor da avenida, nas redes sociais, todos de mochilas novas, todos indo pra aula, numa cena que termina bem onde começamos no primeiro dia de aula, sim toda a produção é para um único dia e o glamour vai diminuindo. Mas o que fazer? O que temos além de mochilas que vão ficando velhas? Senhores, temos crianças, temos jovens, que são vivos, que possuem o dom de ter olhos brilhantes e isso é maravilhoso. Se pudéssemos fazê-los olharem para si mesmos como olham para suas mochilas, se pudéssemos fazê-los se sentir felizes e renovados a cada dia, durante o ano todo? Acredito que podemos. Está nas nossas mãos direcionar o olhar ao que realmente importa, ajustar os valores das coisas... Uma mochila não consegue manter a sua cor durante muito tempo, mas um humano consegue fazer coisas maravilhosas, todos os dias. Se olharmos para o que importa vamos ter e ver olhos brilhando o ano inteiro. Tenho fé!

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O Direito ao Delírio (Eduardo Galeano)

Que tal se delirarmos um pouquinho? Que acham se fixarmos nossos olhos, mais além da infâmia para imaginar outro mundo possível?
O ar estará limpo de todo veneno que não venha dos medos humanos e das humanas paixões;
Nas ruas, os carros serão esmagados pelos cães, as pessoas não serão dirigidas pelos carros,
Nem serão programadas pelo computador, nem serão compradas pelos supermercados, nem serão também assistidas pela TV. A TV deixará de ser o membro mais importante da família
E será tratada como o ferro de passar ou a maquina de lavar roupa.
Será incorporado aos códigos penais, o crime de estupides para aqueles que o cometem por viver para ter ou para ganhar, ao invés de viver para viver simplesmente, assim como canta o pássaro sem saber que canta e como brinca a criança sem saber que brinca.
Em nenhum país irão prender os rapazes que se negam a cumprir o serviço militar, senão aqueles que queiram servi-lo.
Ninguém viverá para trabalhar, mas todos nós trabalharemos para viver,
Os economistas não chamarão mais o nível de vida o nível de consumo e nem chamarão de qualidade de vida as quantidades de coisas.
Os cozinheiros não acreditarão que as lagostas adoram serem fervidas vivas;
Os historiadores não acreditarão que os países adoram serem invadidos;
Os políticos não crerão que os pobres adoram comer promessas;
A solenidade deixará de acreditar que é uma virtude;
E ninguém, ninguém levará a sério alguém que não seja capaz de tirar sarro de si mesmo;
A morte e o dinheiro perderão seus mágicos poderes, e nem por falecimento, nem por fortuna se tornará o canalha em um virtuoso cavaleiro.
A comida não será uma mercadoria, nem a comunicação um negócio,
Porque a comida e a comunicação são direitos humanos;
Ninguém morrerá de fome, porque ninguém morrerá de indigestão;
As crianças de rua não serão tratadas como se fossem lixo, porque não existirá crianças de rua;
As crianças ricas não serão tratadas como se fossem dinheiro, porque não haverá crianças ricas;
A educação não será privilégio daqueles que possam pagá-la; e a polícia não será a maldição de quem não possa comprá-la.
A justiça e a liberdade, irmãs siamesas condenadas a viver separadas, novamente juntas, bem grudadinhas, costas com costas...
Na Argentina as loucas da ”Praça de Maio”, serão um exemplo de saúde mental, porque elas se negaram a esquecer nos tempos da amnésia obrigatória.
A santa mãe igreja corrigirá algumas erratas das escritas de Moisés, e o sexto mandamento mandará festejar o corpo. A igreja também realizará outro mandamento que Deus havia esquecido:
“Amarás a natureza, da qual fazes parte”.
Serão reflorestados os desertos do mundo e os desertos da alma;
Os desesperados serão esperados e os perdidos serão encontrados, porque eles são os que se desesperaram de muito, muito esperar e eles se perderam de muito, muito procurar.
Seremos compatriotas e contemporâneos de todos os que tenham vontade de beleza e vontade de justiça, tenham nascido; quando tenham nascido e tenham vivido; onde tenham vivido, sem que importem nenhum pouquinho as fronteiras do mapa e nem do tempo;
Seremos imperfeitos, porque a perfeição continuará sendo o chato privilégio dos deuses.
Mas neste mundo trapalhão e fodido seremos capazes de viver cada dia como se fosse o primeiro e cada noite como se fosse a última.

sábado, 8 de outubro de 2011

Fuga

É notório que existem pessoas que gostam de ser enganadas e todas pagam um alto preço pra isso, pois não querem ser enganadas por qualquer um. É preciso que saiba enganar direitinho e com classe pois a vaidade humana exige um certo requinte. Não entendo o medo de certas pessoas quanto ao verdadeiro, ao latente, o horror a sangue fervendo, feridas abertas, tempo passando, sentimentos aflorando, decisões,  mudanças, tudo acontecendo ao mesmo tempo sem parar... Isso é a vida: um vulcão em erupção, é terremoto, é movimento é transição...  Não adianta fingir que nada acontece, se acontece. Não adianta fingir que tudo sempre é igual se as coisas mudam pelo menos umas cinco vezes por dia. Não adianta fingir e nem se aliar com quem te convença pra tentar criar uma realidade mais plausível, a que te foi ensinada: aquele velho paradigma do bom e o mau e a perfeita descrição que trazes de quem deveria te casar e te relacionar. Alguém alguma vez já te disse a quem deves amar?  Porque será que somos atraídos pelo diferente então, senhores? Porque diante de uma pessoa 'não aconselhável" vos comportais tal qual à frente de uma irresistível guloseima? (...)  E então descobre-se além do rótulo uma imagem bela, capaz de fazer refletir, capaz de atormentar, de sacudir, de abalar as estruturas e faz-se a possibilidade de libertação do ser, o sinal, o momento da decisão. O momento da clareza onde se escolhe se continua com os olhos abertos ou se mergulha de vez na teatralidade da vida....
Em terras do "finge que me ama que eu finjo que acredito" penso que as pessoas não devem pensar seriamente  sobre si mesmas, pois o que mais importa são as aparências, o próprio paradigma!  

Pessoas Comuns

Quando me apresentaram  Jovin eu já o tinha visto no ônibus e o que me chamava atenção era o conjunto de baixinho, cabeçudo mais bermuda, tênis vermelho, camiseta e casaco de paletó... Excêntrico, talvez, nem pude pensar direito e a minha amiga Laise me apresentou o sujeito como namorado, ninguém é perfeito.
Isso a mais de dez anos atrás, digo dez porque foi o tempo que namoraram. O namoro deles durou esse tempo mas nunca conseguiram colocar em pratica nenhum objetivo, como se entender, porque na verdade, na verdade Laise era lésbica e Jovin nunca sonhou, mas acabou sendo trocado por uma menina. Jovin cai nas drogas, confirmando as teorias do pai de Laise, que nunca acreditou no futuro do rapaz!
 Depois disso via a Laise sempre por acaso pelas estações de trem, ela se tornou cabeleireira, está sempre muito apressada, desistiu de morar com os pais, nunca terminou os estudos, é espirita,  frequenta uns lances de budismo, usa roupas estranhas, fuma cigarro escondida e tingiu seu cabelo de preto ...   Jovin eu via pelos bares, bebendo, depressivo, falando merda e sendo demitido de três em três meses...