sexta-feira, 8 de outubro de 2010

É A MINHA SOLUÇÃO

A resolução de um problema não é algo externo, consiste em "resolver as coisas" o fato de assumir o que pensamos e como nos sentimos em relação ao ponto. Quando soubemos essas respostas, nos encaminhamos para a resolução. Isso não significa exatamente final feliz, mas apenas o final, apenas a resolução, o resultado.
Tudo na vida se resolve, o problema é que pensamos que resultados negativos, não são resoluções são incógnitas. Mas não são... Resultado negativo não deixa de ser resultado, o que temos que fazer é nos resolver com ele e buscar nele a sua solução em relação a nós próprios. Sempre me pergunto, o que posso fazer por isso? E faço tudo que posso. Depois me pergunto se estou satisfeita comigo mesma em relação as minhas atitudes e se fiz o melhor. Depois disso é seguir sem deixar nada a resolver em paz comigo mesma.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Fractais

Ultimamente todas as loucas que formam o meu ser resolveram se manisfestar. Antigamente era mais ordenada a coisa até que uma delas perguntou: Tá mais, porque apenas algumas têm o monopólio da cabeça? A outra respondeu: Porque tu só pensa merda! A primeira retrucou: E que vida maravilhosa que tivemos até então, não é mesmo? Instalou-se a queixa então se formou o debate todas queriam falar, agir e pensar um pouco.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Tudo aquilo a que se chama Amor

Cupidez, amor: ah! como estas duas palavras soam de modo diferente em nossos corações!... Pode ser, portanto, que ambas exprimam o mesmo instinto batizado duas vezes: a primeira do ponto de vista dos que já a possuem, dos que tem um instinto de posse levemente satisfeito e que receiam entretanto pels seus "bens"; a segunda elogiosamente do ponto de vista dos insatisfeitos e dos ávidos que acham "bom" este instindo. O nosso "amor pelo próximo" não será o desejo imperioso de uma nova propriedade? E não sucede o mesmo com o nosso amor pela ciência, pela verdade? E, mas geralmente, com todos os desejos de novidade?
Cansamo-nos pouco a pouco do antigo, do que possuimos com certeza, temos ainda necessidade de estender as mãos. Mesmo a mais bela paisagem, quando vivemos diante dela mais de três meses, deixa de nos agradar, qualquer margem distante nos atrai mais: geralmente uma posse reduz-se com o uso.
O prazer que tiramos a nós próprios procura manter-se, transformando sempre algo novo em nós mesmos - é precisamente isto que denominamos possuir. Cansar de uma posse é cansar-se de si próprio. (Pode-se também sofrer com o excesso; pode-se, assim, dar o lisonjeiro nome de "amor" a necessidade de jogar fora, de dar.) Ao vermos uma pessoa sofrer, aproveitamos de bom grado essa ocasião para nos apoderarmos dela; é o que faz o homem caridoso, o indivíduo complacente. Também damos o nome de "amor" a este desejo de uma nova posse que desperta em nossa alma e sentimos prazer nisso como sentimos diante do apelo de uma nova conquista.
Mas é o amor de sexo para sexo que se revela mais nitidamente como um desejo de posse: aquele que ama quer ser possuidor exclusivo da pessoa que deseja, quer ter um poder absoluto tanto sobre sua alma como sobre o seu corpo, quer ser amado unicamente, instalar-se e reinar na outra alma como o mais alto e o mais desejável. Se considerarmos que isso ão significa nada menos do que excluir o mundo inteiro do gozo de um bem e de uma felicidade preciosa; se pensarmos que aquele que ama visa empobrecer e privar todos os mais competidores, e tornar-se o dragão do seu tesouro como o mais indiscreto "conquistador", o explorador mais egoísta; se imaginarmos enfim que todo o resto do mundo lhe parece indiferente, desbotado, sem valor, e que está pronto a efetuar qualquer sacrifício, a perturbar qualquer ordem estabelecida, a relegar para segundo plano tudo quanto lhe interessa, espantamo-nos que esta cupidez bárbara, esta furiosa injustiça do amor sexual tenha sido a tal ponto glorificada, deificada em todos os períodos da história, e, pior, que tenha extraído deste amor a idéia de amor concebida como sendo contrária ao egoísmo, quando representa talvez a sua expressão mais espontânea. O hábito, aqui, deve ter sido criado por aqueles que não possuiam e desejavam possui-lo; talvez tenham provavelmente havido sempre demais.(...) Existe realmente, aqui e além da terra, uma espécie de prolongameto do amor, no qual o desejo que dois seres experimentam um pelo outro dá lugar a um novo desejo, a uma nova cobiça, a uma sede superior comum, a de um ideal que ultrapassa a ambos: mas quem é que conhece esse amor? Quem o viveu? O seu verdadeiro nome é amizade.

Livro Gaia a Ciência - pág 39 - Nietzsche

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

E então, que quereis?...

Fiz ranger as folhas de jornal

abrindo-lhes as pálpebras piscantes.

E logo

de cada fronteira distante

subiu um cheiro de pólvora

perseguindo-me até em casa.

Nestes últimos vinte anos

nada de novo há

no rugir das tempestades.

Não estamos alegres,

é certo,

mas também por que razão

haveríamos de ficar tristes?

O mar da história

é agitado.

As ameaças

e as guerras

havemos de atravessá-las,

rompê-las ao meio,

cortando-as

como uma quilha corta

as ondas.


Maiakovski – 1927

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Por Amor ( Linda essa letra, beleza pura. Coisa fina! )

Eu conheço tua estrada cada passo que darás
Teus desejos calados, teus vazios, pedras que afastarás
Sem jamais pensar que eu como uma rocha volto sempre pra você

Eu conheço a tua respiração tudo o que você não quer
Você sabe bem que o que você está vivendo
Não é vida, mas não quer reconhecer
Só se o céu, este céu, em chamas desabasse sobre mim

Como um cenário caindo sobre um ator...

Por amor você já fez alguma coisa
Apenas por amor? Já desafiou o vento e gritou?
Já dividiu o próprio coração? Já pagou e apostou várias vezes nessa mania
Que afinal segue sendo só minha

Por amor, você já correu até ficar sem fôlego?
Por amor, já se perdeu e se reencontrou?
E tem de me dizer agora quanto de você colocou nesta estória
O quanto acreditou nessa mentira

Só se um rio se levantasse dentro de mim como uma enchente

Como o nanquim da pena de um pintor
Por amor, você já esgotou sua razão?
Teu orgulho até o pranto?
Você sabe, esta noite eu fico mesmo sem nenhum pretexto
Apenas essa mania que ainda é forte e minha
Dentro desta alma que você dilacera

E eu te digo agora, com sinceridade
Quanto me custa não saber, que és meu

É como se esse mar todo
se afogasse em mim.

Mariella Nava

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

SEXTA-FEIRA 13

- Não sou supersticioso – dizia. Mas nas sextas-feiras 13 fazia o seguinte: não saía de casa. Entende?
- Vamos que me acontece alguma coisa. Aí eu fico supersticioso.
Para proteger seu racionalismo, não se expunha. Não saía de casa. Não saía nem da cama.
- Telefona para o trabalho. Diz que eu estou gripado.
A mãe ia telefonar.
- E mãe...
- O quê?
- Me traz o café na cama?
A mãe trazia.
Ontem ele pediu para a mãe telefonar. Em vez de gripe, para não desconfiarem, mandou dizer que tinha torcido o pé. No escritório as pessoas comentaram:
- Já notaram? Toda sexta-feira 13 acontece alguma coisa com ele.
- Que azar!
Tomou café, almoçou e jantou na cama. Só levantou duas ou três vezes para ir ao banheiro – com muito cuidado. Dormiu um pouco. Leu um pouco, nada muito arriscado. Só quando o velho relógio da sala, o que imitava o Big Bem, tocou meia-noite ele se levantou, escovou os dentes, tomou banho e se arrumou para sair.
- Onde é que tu vai? – perguntou a mãe.
- Pra vida, coroa. Pra vida.
Encontrou com a turma no bar. Durante a conversa, um dos amigos comentou:
- Ganhamos uma hora de existência.
E o outro comentou:
- Ganhamos, não. Recuperamos. Ele não entendia nada.
- Como? O quê? Que história é essa?
- Acabou o horário de verão. Todos os relógios atrasaram uma hora.
- Quer dizer que ainda é sexta-feira 13?
Um amigo olhou o relógio.
- Por mais... vinte e dois minutos.
Ele saiu correndo do bar. Precisava voltar para casa. Precisava voltar para a...
Desapareceu num bueiro.

Luis Fernando Veríssimo

sábado, 7 de agosto de 2010

Sinal Fechado - Chico Buarque

– Olá! Como vai?
– Eu vou indo. E você, tudo bem?
– Tudo bem! Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro... E
você?
– Tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono tranqüilo...
Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é, quanto tempo!
– Me perdoe a pressa - é a alma dos nossos negócios!
– Qual, não tem de quê! Eu também só ando a cem!
– Quando é que você telefona? Precisamos nos ver por aí!
– Pra semana, prometo, talvez nos vejamos...Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é...quanto tempo!
– Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das
ruas...
– Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança!
– Por favor, telefone - Eu preciso beber alguma coisa,
rapidamente...
– Pra semana...
– O sinal...
– Eu procuro você...
– Vai abrir, vai abrir...
– Eu prometo, não esqueço, não esqueço...
– Por favor, não esqueça, não esqueça...
– Adeus!
– Adeus!
– Adeus!

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Reflexão Terráquea

Faz frio, chove, estamos no final de Julho. Desde sexta não para de chover e a vegetação não para de crescer e eu não paro de me molhar. Caminho pelo chão molhado, o barro predomina e o calçamento quase some em meio do lamaçal.
Os prédios molhados, os coloridos guarda-chuvas das senhoras transeuntes ao som molhado da chuva misturado a tudo inclusive nas minhas meias.
A cidade não para, mas perde um tanto seu tom, perde sua identidade, quando chove parece mesmo que ela foi construída no meio de uma floresta gigantesca num planeta gigantesco, meu instinto me sinaliza que devo ter atenção. Olho para o chão e vejo a grama crescendo, crescendo... O chão encharcado parece querer me tragar, meus pés são pequenos pra caminhar nesse imenso lamaçal, olho para o céu, não consigo ver todo tamanho e de onde sai tanta água e vejo o planeta de fora, vejo as nuvens e a chuva caindo na atmosfera. Volto à cidade e penso nela como invasora e pretensiosa, como pode ela querer florescer se não floresce se com a chuva ele não cresce ao contrário arruína.
A vegetação começa a devorar a cidade e cobri-la de verde, quer se reconstituir como os braços de um polvo. Cresce mato dentro do bueiro, no alto das coberturas e até no meio do asfalto. A natureza quer decorar tudo de verde com delicadas flores roxas. E a chuva se sobressai a qualquer um de nossos sons, seu som é sempre saliente e às vezes quando calmo vindo do telhado, num sábado, é adorado pelo ser da floresta, que mora em mim.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Onde Anda

Quantas pessoas eu pensei que fossem você e nelas acabei encontrando mundos vazios de mim, enquanto a teimosia insistia em doar e mesmo assim nada era absorvido
Quantas vezes eu pensei beijar você e beijava uma ilusão e quantas vezes fui também ilusão nessa busca.
Quantas vezes me magoaram e não entendia porque logo você me faria chorar, não percebia o óbvio, eu não entendia que não era você. Não sei onde você está não sei seu nome e isso é tudo que sei. Às vezes também penso que já te encontrei e que já te deixei ir embora. Mas você não iria...
Ah não, você não iria.

Cadum, cadum

Faz tempo que não escrevo nada, eu tenho percebido isso, mas não era preguiça, eu tava pensando. As coisas acontecem numa velocidade tão grande que todo o tempo que eu tenho ainda não é suficiente para digerir. È muita confusão, muita gente, muitos acontecimentos, muito álcool, muito ego, muita conversa jogada fora. Vivo pensando em fazer algo, me divertir e me divirto. Não me importa o que os outros pensam sobre mim, tanto que nem quero saber e me irritam quando me falam, pois eu sei exatamente o que sou. Não é que me irrite ouvir a verdade, nem questiono o fundo, são suas vozes o que mais me causa asco.
Tava pensando também que o que eu sempre pensei definitivamente está certo, e que meu caminho eu já sei qual seguir. Aprendi que além de continuar sendo o que sou e fazendo o que eu achar por certo fazer, a não dar ouvidos aos tolos. Finalmente provei para mim mesmo que os tolos existem.
É uma pena que todo esse “mundo”, exista, mas é uma glória poder escolher viver longe dele. Não posso salvá-los, porque eles querem é me dar socorro. Ninguém nunca vai segurar a mão de ninguém e nem admitir estar errado, pois somos de mundos diferentes. E se eu estender o braço eles me puxam para esse buraco escuro onde residem e chamam de moral. Buraco escuro sim, onde acontece tudo às escuras, todos sabem, mas ninguém pode saber, não admitem, onde acontece e não acontece,tem o extra-oficial e o oficial, a hipocrisia é a mãe deles. Aprendi a me afastar desse mundo de espelhos, tenho amor no coração, me conheço e não preciso me espelhar em nada.
Somente preciso prosseguir da mesma maneira que vinha, no mesmo caminho e com a certeza cada vez maior de viver na PAZ mundial.
Viver com alegria incomoda quem não é feliz, mas esse é o jeito de viver que não era pra incomodar ninguém!

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Não perca as crianças de vista - O Rappa

Pra enxergar o infinito
Debaixo dos meus pés
Não basta olhar de cima
E buscar no escuro, no obscuro
A sombra que me segue todo dia

Deixo quieto
e seguro as páginas dos sonhos que não li
E outra vez não me impeço de dormir

Os jornais não informam mais
E as imagens nunca são tão claras
Como a vida
Vou aliviar a dor e não perder
As crianças de vista

Eo, Eo, Não perca as crianças de vista
Eo, Eo, Não perca as crianças de vista
Eo, Eo, Não perca as crianças de vista

Família, um sonho ter uma família
Família, um sonho de todo dia

Família é quem você escolhe pra viver
Família é quem você escolhe pra você
Não precisa ter conta sanguínea
É preciso ter sempre um pouco mais de sintonia

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Ciclo

Cada cólica que me vem nesses sucessivos dias, me faz pensar que estou com um pecado a menos na vida e fico esperando pela próxima.
Enquanto isso uma dor bem no meio das costas, bem onde não tem mais costela, dói soberana sem parar por um mísero minuto.
Meus hormônios muito alterados, confusão, psicose, sentimento punk aflorado.
Dias de descontrole, dias de se trancar, dias em que viajo, penso, falo e faço muita esquisitice. Nesses dias sou apenas uma fêmea e me sinto ameaçada.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Soneto de Separação

De repente do riso fez o pranto
Silencio e branco como a bruma
E das bocas fez-se a espuma
E das maos espalmadas fez-se o espanto

De repente da calma fez o vento
Que dos olhos desfez a ultima chama
E da paixao fez-se o ressentimento
E do momento imovel, fez-se o drama

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente

Fez-se de amigo proximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente

Vinícius de Morais

sábado, 30 de janeiro de 2010

A Genialidade da Multidão por Charles Bukowski

A Genialidade da Multidão

Há bastante deslealdade, ódio,
violência,
Absurdo no ser humano comum
Para suprir qualquer exército em qualquer dia.
E O Melhor No Assassinato São Aqueles
Que Pregam Contra Ele.
E O Melhor No Ódio São Aqueles
Que Pregam AMOR
E O MELHOR NA GUERRA
--FINALMENTE--SÃO AQUELES QUE
PREGAM
PAZ

Aqueles Que Pregam DEUS
PRECISAM de Deus
Aqueles Que Pregam PAZ
Não têm paz.
AQUELES QUE PREGAM AMOR
NÃO TÊM AMOR
CUIDADO COM OS PREGADORES
Cuidados com os Sabedores.

Cuidado
Com Aqueles Que
Estão SEMPRE
LENDO
LIVROS

Cuidado Com Aqueles Que Detestam
Pobreza Ou Que São Orgulhosos Dela

CUIDADO Com Aqueles Que Elogiam Fácil
Porque Eles Precisam De ELOGIOS De Volta

CUIDADO Com Aqueles Que Censuram Fácil:
Eles Têm Medo Daquilo Que Não Conhecem

Cuidado Com Aqueles Que Procuram Constantes Multidões; Eles Não São Nada Sozinhos

Cuidado
Com O Homem Comum
Com A Mulher Comum
CUIDADO Com O Amor Deles

O Amor Deles É Comum, Procura O Comum
Mas Há Genialidade Em Seu Ódio
Há Bastante Genialidade Em Seu
Ódio Para Matar Você, Para Matar
Qualquer Um.

Sem Esperar Solidão
Sem Entender Solidão
Eles Tentarão Destruir
Qualquer Coisa
Que Seja Diferente
Deles Mesmos

Incapazes
De Criar Arte
Eles Não Irão
Compreender Arte

Eles Vão Considerar Sua Falha
Como Criadores
Apenas Como Uma Falha
Do Mundo

Incapazes De Amar Completamente
Eles Vão ACREDITAR Que Seu Amor É
Incompleto
E ELES VÃO ODIAR
VOCÊ

E Seu Ódio Será Perfeito
Como Um Diamante Brilhante
Como Uma Faca
Como Uma Montanha
COMO UM TIGRE
COMO Cicuta

Sua Mais Fina
ARTE

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Freud explica o bagulho doido. "Sábias Palavras" Tenho dito!

Segundo alguns psicanalistas quando se apaixona você não se relaciona com alguém de carne e osso, mas com uma projeção criada por você mesmo e a projeção que fazemos é a de um ser completamente perfeito. Mas depois de um período a projeção acaba e você passa a enxergar de verdade a pessoa com que está se relacionando invariavelmente algumas virtudes do parceiro ou da parceira vão embora com a projeção...

Outras ficam...

... E se o que ficou de cada um for suficiente para os dois, a relação perdura.

Caso contrário... Ninguém sabe o que faz o botãozinho ligar e iniciar uma nova projeção.

O amor é inexplicável.
mas tem coisas que você pode entender...
Sigmund Freud

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Álvaro de Campos trecho Lisbon Revisited

" Sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?"

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Males

Entendo de qualquer mal, só não entendo do meu próprio mal.
A mentira é uma coisa feia, a traição é totalmente condenável e as conclusões são só minhas, mas o que fazer com elas se eu também minto e também traio. Mas quando essas vêm contra mim sinto raiva e fico me sentindo injustiçada. Coloco tudo isso numa linha mais racional e me julgo errada também, mas pra mim mais errado é sempre o outro. Justifico que fiz porque tinha motivos relevantes, pois vivo juntando tudo o que as pessoas falam e comparando com o que fazem ou com o que depois negam, faço coleção de contradições, de pequenas mentiras e chego à conclusão de que me enganam. Todo mundo engana, mas ninguém quer ser enganado e muito menos ser descoberto.
O pior nisso tudo é a dúvida, a vontade de ter feito diferente e o resultado de que algo irreversivelmente quebrou não importa mais o que aconteça.
A sensação desagradável de não ter e ter razão, a lembrança de já ter feito diferente e mesmo assim ter sido enganado, a sensação de que não se tem resposta, não tem fórmula, de que ter confiança é muito simples ou muito complicado depende muito de quem vem. A confiança mora dentro de algo que não pode ser traduzido em palavras é uma coisa que eu sinto ou não, a confiança é uma conexão que se estabelece. Para ser confiável preciso me sentir à vontade.

Sábias Palavras

" Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles.
Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles.
Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração.
Como eles admiravam estarem juntos!
Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos." (Clarice Lispector)