quinta-feira, 26 de maio de 2011

O diagnóstico e a terapêutica

O amor é uma das doenças mais bravas e contagiosas. Qualquer um reconhece os doentes dessa doença. Fundas olheiras delatam que jamais dormimos, despertos noite após noite pelos abraços, ou pela ausência de abraços, e padecemos febres devastadoras e sentimos uma irresistível necessidade de dizer estupidezes. O amor pode ser provocado deixando cair um punhadinho de pó de me ame, como por descuido, no café ou na sopa ou na bebida. Pode ser provocado, mas não pode impedir. Não o impede nem a água benta, nem o pó de hóstia; tampouco o dente de alho, que nesse caso não serve para nada. O amor é surdo frente ao Verbo divino e ao esconjuro das bruxas. Não há decreto de governo que possa com ele, nem poção capaz de evitá-lo, embora as vivandeiras apregoem, nos mercados, infalíveis beberagens com garantia e tudo.

O Livro dos Abraços, Eduardo Galeano

domingo, 22 de maio de 2011

Isso é tudo

“Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam, a fim de serdes filhos do vosso Pai que está nos céus e que faz se levante o Sol para os bons e para os maus e que chova sobre os justos e os injustos. – Porque, se só amardes os que vos amam, qual será a vossa recompensa? Se apenas os vossos irmãos saudardes, que é o que com isso fazeis mais do que os outros?” (S. MATEUS, cap. V, vv. 43 a 47.)

segunda-feira, 9 de maio de 2011

As Rosas

As Rosas amo dos jardins de Adônis,
Essas volucres amo, Lídia, rosas
Que em o dia em que nascem,
Em esse dia morrem.
A luz para elas é eterna, porque
Nascem nascido já o sol, e acabam
Antes que Apolo deixe
O seu curso visível.
Assim façamos nossa vida um dia,
Inscientes, Lídia, voluntariamente
Que há noite antes e após
O pouco que duramos.



Ricardo Reis - Fernando Pessoa

domingo, 8 de maio de 2011

Do que Quero

Do que quero renego, se o querê-lo
Me pesa na vontade.
Nada que haja
Vale que lhe concedamos
Uma atenção que doa.
Meu balde exponho à chuva, por ter água.
Minha vontade, assim, ao mundo exponho,
Recebo o que me é dado,
E o que falta não quero.

O que me é dado quero
Depois de dado, grato.

Nem quero mais que o dado
Ou que o tido desejo.


Ricardo Reis - Fernando Pessoa

domingo, 1 de maio de 2011

Misto

Gosto do colorido, do verde com azul, amarelo, vermelho e do cinza embranquecido as vezes quase "anêmico" não muito me agrada, sem luz nem se fala, com aranhas pior ainda e tempestade? Ah tá bom conto outra... A visão nublada se perdendo pelo belo temporal, que carrega tudo rio abaixo imagina corações... A lua hoje esta linda e já faz tempo que não leio meu signo, mas sua influencia sobre mim eu sei e é inexata, feita de fases, assim como sou...
Olho para a garrafa de vodka e ela olha para mim e ficamos nos olhando ... Perestroika diz no rótulo, cá na mente me vem que isso foi o que levou ao colapso a União Soviética, eu deveria ter desconfiado do conteúdo ...