sexta-feira, 13 de agosto de 2010

SEXTA-FEIRA 13

- Não sou supersticioso – dizia. Mas nas sextas-feiras 13 fazia o seguinte: não saía de casa. Entende?
- Vamos que me acontece alguma coisa. Aí eu fico supersticioso.
Para proteger seu racionalismo, não se expunha. Não saía de casa. Não saía nem da cama.
- Telefona para o trabalho. Diz que eu estou gripado.
A mãe ia telefonar.
- E mãe...
- O quê?
- Me traz o café na cama?
A mãe trazia.
Ontem ele pediu para a mãe telefonar. Em vez de gripe, para não desconfiarem, mandou dizer que tinha torcido o pé. No escritório as pessoas comentaram:
- Já notaram? Toda sexta-feira 13 acontece alguma coisa com ele.
- Que azar!
Tomou café, almoçou e jantou na cama. Só levantou duas ou três vezes para ir ao banheiro – com muito cuidado. Dormiu um pouco. Leu um pouco, nada muito arriscado. Só quando o velho relógio da sala, o que imitava o Big Bem, tocou meia-noite ele se levantou, escovou os dentes, tomou banho e se arrumou para sair.
- Onde é que tu vai? – perguntou a mãe.
- Pra vida, coroa. Pra vida.
Encontrou com a turma no bar. Durante a conversa, um dos amigos comentou:
- Ganhamos uma hora de existência.
E o outro comentou:
- Ganhamos, não. Recuperamos. Ele não entendia nada.
- Como? O quê? Que história é essa?
- Acabou o horário de verão. Todos os relógios atrasaram uma hora.
- Quer dizer que ainda é sexta-feira 13?
Um amigo olhou o relógio.
- Por mais... vinte e dois minutos.
Ele saiu correndo do bar. Precisava voltar para casa. Precisava voltar para a...
Desapareceu num bueiro.

Luis Fernando Veríssimo

sábado, 7 de agosto de 2010

Sinal Fechado - Chico Buarque

– Olá! Como vai?
– Eu vou indo. E você, tudo bem?
– Tudo bem! Eu vou indo, correndo pegar meu lugar no futuro... E
você?
– Tudo bem! Eu vou indo, em busca de um sono tranqüilo...
Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é, quanto tempo!
– Me perdoe a pressa - é a alma dos nossos negócios!
– Qual, não tem de quê! Eu também só ando a cem!
– Quando é que você telefona? Precisamos nos ver por aí!
– Pra semana, prometo, talvez nos vejamos...Quem sabe?
– Quanto tempo!
– Pois é...quanto tempo!
– Tanta coisa que eu tinha a dizer, mas eu sumi na poeira das
ruas...
– Eu também tenho algo a dizer, mas me foge à lembrança!
– Por favor, telefone - Eu preciso beber alguma coisa,
rapidamente...
– Pra semana...
– O sinal...
– Eu procuro você...
– Vai abrir, vai abrir...
– Eu prometo, não esqueço, não esqueço...
– Por favor, não esqueça, não esqueça...
– Adeus!
– Adeus!
– Adeus!