segunda-feira, 13 de setembro de 2010

E então, que quereis?...

Fiz ranger as folhas de jornal

abrindo-lhes as pálpebras piscantes.

E logo

de cada fronteira distante

subiu um cheiro de pólvora

perseguindo-me até em casa.

Nestes últimos vinte anos

nada de novo há

no rugir das tempestades.

Não estamos alegres,

é certo,

mas também por que razão

haveríamos de ficar tristes?

O mar da história

é agitado.

As ameaças

e as guerras

havemos de atravessá-las,

rompê-las ao meio,

cortando-as

como uma quilha corta

as ondas.


Maiakovski – 1927

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Por Amor ( Linda essa letra, beleza pura. Coisa fina! )

Eu conheço tua estrada cada passo que darás
Teus desejos calados, teus vazios, pedras que afastarás
Sem jamais pensar que eu como uma rocha volto sempre pra você

Eu conheço a tua respiração tudo o que você não quer
Você sabe bem que o que você está vivendo
Não é vida, mas não quer reconhecer
Só se o céu, este céu, em chamas desabasse sobre mim

Como um cenário caindo sobre um ator...

Por amor você já fez alguma coisa
Apenas por amor? Já desafiou o vento e gritou?
Já dividiu o próprio coração? Já pagou e apostou várias vezes nessa mania
Que afinal segue sendo só minha

Por amor, você já correu até ficar sem fôlego?
Por amor, já se perdeu e se reencontrou?
E tem de me dizer agora quanto de você colocou nesta estória
O quanto acreditou nessa mentira

Só se um rio se levantasse dentro de mim como uma enchente

Como o nanquim da pena de um pintor
Por amor, você já esgotou sua razão?
Teu orgulho até o pranto?
Você sabe, esta noite eu fico mesmo sem nenhum pretexto
Apenas essa mania que ainda é forte e minha
Dentro desta alma que você dilacera

E eu te digo agora, com sinceridade
Quanto me custa não saber, que és meu

É como se esse mar todo
se afogasse em mim.

Mariella Nava