sábado, 26 de março de 2011

Flores roxas na janela

Eu não tive vizinhos por anos no lado esquerdo da casa onde só tinha um terreno com árvores e um poço. Então, construíram uma casa aqui do lado, na minha janela a vista virou uma parede com os tijolos aparecendo, é o progresso. Pensei em fazer um desenho ali aquela parede me incomodava era muito concreta... Fiquei por vários dias sem abrir a janela e para minha surpresa ganhei um maravilhoso presente da natureza, flores roxas subiram pelas paredes, me sorriem todos os dias e eu falo com elas ...

Agua?

Porque me tomas? Disse a água. E reflito, me coloco no lugar da água e percebo pelo corretor ortográfico que água é com acento agudo e não acento grave. Tirando a acentuação ao me colocar no lugar da água percebo que muitas vezes na mesma situação que ela, já fiz essa pergunta várias vezes. Porque me tomas? Disse a Mônica. A agua como eu está ali na dela, dentro do seu devido recipiente, sempre muito líquida, muito transparente, fresca, tratada e quando menos menos espera vem alguém e enche vários copos dela e a devora, a engole, lhe roubam aos litros sem ao menos sentir o gosto e chamam a isso matar a sede... Mas como a vida cíclica a água é, você pode achar que mata sua sede em águas puras, mas o que não imagina é que a água que tanto te hidrata, que mata sua sede, que passa pela sua garganta, ela não fica, porém é sempre a mesma, infinitamente.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Gatos

"Gosto de olhar os meus gatos, eles me acalmam. Eles me fazem sentir bem. Você sabia que os gatos dormem 20 das 24 horas do dia? Não se admira que tenham melhor aparência do que eu. Na minha próxima vida, quero ser um gato. Dormir 20 horas por dia e esperar ser alimentado. Sentar por aí lambendo meu cu. Os humanos são desgraçados demais, irados demais, obcecados demais."
Charles Bucóviski

quarta-feira, 16 de março de 2011

Celebração de bodas da razão com o coração - Eduardo Galeano

Para que a gente escreve, se não é para juntar nossos pedacinhos? Desde que entramos na escola ou na igreja, a educação nos esquarteja: nos ensina a divorciar a alma do corpo e a razão do coração. Sábios doutores de Ética e Moral serão os pescadores das costas colombianas, que inventaram a palavra sentipensador para definir a linguagem que diz a verdade.
Um sistema de desvínculos: para que os calados não se façam perguntas, para que os opinados não se transformem em opinadores. Para que não se juntem os solitários, nem a alma junte seus pedaços. O sistema divorcia a emoção do pensamento como divorcia o sexo do amor, a vida íntima da vida pública, o passado do presente. Se o passado não tem nada para dizer ao presente, a história pode permanecer adormecida, sem incomodar, nos guarda-roupas onde o sistema guarda seus velhos disfarces. O sistema esvazia nossa memória, ou enche a nossa memória de lixo, e assim nos ensina a repetir a história em vez de fazê-la. As tragédias se repetem como farsas, anunciava a célebre profecia. Mas entre nós, é pior: as tragédias se repetem como tragédias.


(O Livro dos Abraços)

terça-feira, 15 de março de 2011

A fome/2 - Eduardo Galeano

Um sistema de desvinculo: Boi sozinho se lambe melhor.., O próximo, o outro, não é seu irmão, nem seu amante. O outro é um competidor, um inimigo, um obstáculo a ser vencido ou uma coisa a ser usada. O sistema, que não dá de comer, tampouco dá de amar: condena muitos à fome de pão e muitos mais à fome de abraços.

A arte das crianças - Eduardo Galeano

Mario Montenegro canta os contos que seus filhos lhe contam. Ele senta no chão, com seu violão, rodeado por um círculo de filhos, e essas crianças ou coelhos contam para ele a história dos setenta e oito coelhos que subiram um em cima do outro para poder beijar a girafa, ou contam a história do coelho azul que estava sozinho no meio do céu: uma estrela levou o coelho azul para passear pelo céu, e visitaram a lua, que é um grande país branco e redondo e todo cheio de buracos, e andaram girando pelo espaço, e saltaram sobre as nuvens de algodão, e depois a estrela se cansou e voltou para o país das estrelas, e o coelho voltou para o país dos coelhos, e lá comeu milho e cagou e foi dormir e sonhou que era um coelho azul que estava sozinho no meio do céu.

quinta-feira, 10 de março de 2011

As lágrimas fazem triste meu rosto, inchados meus olhos e apressado meu caminhar. Vivo numa cidade pequena, com pessoas pequenas é tudo devidamente proporcional. Se fugi alguma vez, me perdoe não tenho culpa por ter sido carregada, nem mesmo por ter nascido. Hoje estou ai, fruto de uma promessa de melhora, de um sonho, de uma boa intenção, da ingenuidade e que tal tentar usar a palavra amor? Da história mais comum eu nasci. Não para simplesmente vir e sim para causar um determinado efeito, não deu certo! Passa o tempo o vácuo me pertence, os grilos me calam ... Busquei durante toda a vida alguém e não encontrava e quando achei encontrar não entendia porque eles não me deixavam chegar perto mesmo se eu fizesse vista grossa a seus defeitos e então eu desistia sem achar sentido porque eu queria pessoas assim? Assim como? Iguais a ele, na verdade eu queria saber dele, como ele vivia o que pensava eu sempre procurei ele, sempre... Mas ele sempre esteve lá, sempre esteve lá... E eu nunca me dei conta, só agora descobri... Pai era tu, eu nunca quis te procurar, mas sempre te procurei e agora te encontro ... Morto. Como foi que viveu? Todos te admiravam mesmo com toda tua escrotisse, tu foi alto, tu foi simpático, tu não foi nada pai, mas todos sempre gostaram de ti mesmo assim. E eu também gosto de ti mesmo assim, sei que toda a informação que tenho é vaga, sinto em mim tuas emoções, vejo em mim teu jeito, o teu amor pai! Amor que não me lembro, seu rosto que não esqueço, suas fotos que não tenho, sua presença pai! Eu nunca chamei ninguém de pai, nunca esse tratamento é seu, só seu. Tu pode ter feito de tudo para ser livre, para não se apegar as pessoas, entenda por favor EU TE AMO MESMO ASSIM!!! Seu jeito, sua atitude, tu estava de um lado e eu gostaria muito de entender sua filosofia. Te admiro acho que todos devem ter ideais e morrer fazendo o que gostam. Te respeito, te admiro, te amo MESMO ASSIM. Do jeito que tu é, que tu foi? Meu pai! Hãm? Só vou te dar orgulho, seu sentimento punk me preenche, vou conseguir dizer pai o que talvez tenha ficado preso na sua garganta... Eu vou além...

terça-feira, 8 de março de 2011

Se eu pudesse trincar a terra toda

Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
E se a terra fosse uma cousa para trincar
Seria mais feliz um momento...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se,
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva...

O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja...
Alberto Caeiro (Fernando Pessoa)

NEM SEMPRE SOU IGUAL de Alberto Caeiro

Nem sempre sou igual no que digo e escrevo.
Mudo, mas não mudo muito.
A cor das flores não é a mesma ao sol
De que quando uma nuvem passa
Ou quando entra a noite
E as flores são cor da sombra.

Mas quem olha bem vê que são as mesmas flores.
Por isso quando pareço não concordar comigo,

Reparem bem para mim:
Se estava virado para a direita,
Voltei-me agora para a esquerda,
Mas sou sempre eu, assente sobre os mesmos pés -
O mesmo sempre, graças ao céu e à terra
E aos meus olhos e ouvidos atentos
E à minha clara simplicidade de alma ...

segunda-feira, 7 de março de 2011

Recortes de "Blame It On The Boogie/Michael Jackson"

Minha querida tá sempre dançando e isso não pode ser uma coisa ruim
Mas eu não recebi nenhum carinho e isso não é mentira.
Nós passamos a noite em frisco em cada discoteca.
A partir daquela noite, eu dei adeus ao nosso amor.

Não ponha a culpa no pôr do sol
Não ponha a culpa no luar
Não ponha a culpa nos bons tempos
Ponha a culpa na dança


Essa dança desagradável me chateia, mas de alguma forma me viciou
Ritmo encantador me pegou de jeito
Eu mudei minha vida completamente, eu vi o brilho
E minha querida não consegue tirar os olhos de mim

Não ponha a culpa no pôr do sol
Não ponha a culpa no luar
Não ponha a culpa nos bons tempos
Ponha a culpa na dança


Eu não posso,eu não posso
Eu não posso controlar os meus pés


Essa magia me toma, esse ritmo quente me faz de bobo
O diabo me toma através dessa dança
Eu estou cheio de fúria febril, uma chama nasce dentro de mim
A dança me têm com uma super batida

Não ponha a culpa no pôr do sol
Não ponha a culpa no luar
Não ponha a culpa nos bons tempos
Ponha a culpa na dança

Pôr do sol
Luar
Bons tempos
Dança

Não culpe isto (Pôr do sol)
Você tem (Luar)
Você quer (Bons tempos)
Sim (Dança)

Ponha a culpa em si mesmo (Pôr do sol)
Não é culpa de ninguém (Luar)
Mas sua e da dança (Bons tempos)
A noite toda (dança)

Não posso parar essa dança (Pôr do sol)
Não é culpa de ninguém (Luar)
Mas sua e da dança (Bons tempos)
Dançar? A noite toda (Dança)

domingo, 6 de março de 2011

Me emociono em presenciar essa Estrela brilhar e ver Brasil adolescer!

Brilha uma Estrela

Sem medo de ser feliz,
sigo a minha sina.

Tentando encantar com as rimas,
vou mascarando o sonho.

Adiando as lutas,
ficando na escuta.

Justiça para os três "Ps",
o mesmo outra vez.

Vou seguindo a estrela,
esculpindo a cruz vermelha.

Para salvar uma nação,
governada pela corrupção.

Ainda que sem inflação,
que sofre uma manipulação velada.

Nunca vi tanta marmelada,
na manipulação da bolsa que sobe-e-desce.

Será que o cidadão de tudo esquece,
enquanto todos brasileiros empobrece.

Ibope que desce-e-sobe,
me cansei de gás nobre.

Brilha uma estrela, brilha uma estrela...
Nesse céu azul...

Brilha uma estrela, brilha uma estrela...
Lula lá...

Brilha uma estrela,
Lula lá...
Cresce a esperança.
Lula lá...
de um Brasil criança.
Pra fazer,
brilhar nossa estrela...

Pablo Nykc

sexta-feira, 4 de março de 2011

Pipoca - Rubem Braga

A transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação por que devem passar os homens. O milho de pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer. Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho para sempre. Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira.
São pessoas de uma mesmice, uma dureza assombrosas. Só elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.
Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos - Dor. Pode ser o fogo de fora: perder um amor, um filho, um amigo ou o emprego. Pode ser o fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão, doenças e sofrimentos cujas causas ignoramos.
Há sempre o recurso do remédio, uma maneira de apagar o fogo.
Sem fogo, o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação. Imagino que a pipoca dentro da panela, ficando cada vez mais quente, pensa que a sua hora chegou: vai morrer.
Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não consegue imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz.
Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: BUM! E ela aparece completamente diferente, como nunca havia sonhado.
Piruá é o milho que se recusa a estourar. São aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar.
Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. A sua presunção e o medo são a dura casca que não estoura. O destino delas é triste. Ficarão duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca e macia. Não vão dar alegria para ninguém.
Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo.
E você, o que é?
Uma pipoca estourada ou um piruá?

quinta-feira, 3 de março de 2011

Despertador toca, o corpo reclama por mais uns instantes ... Saio atrasada como sempre, chego na hora conforme o combinado. Passam as horas, cumpro tarefas, desempenho mudanças, ouço todos os tipos de conversa. Paro, respiro, dou-me direitos. O tempo voa, é noite, um passeio com as amigas. É quase carnaval, a conversa flui, tudo vai acontecendo tranquilamente enquanto o garçom, circula pelo bar em nossa direção marcando assim nosso tempo em cervejas. Volto sem mais, direto à lentilha que logo percebi iria ter que compartilhar com o gato, pois a panela estava aberta e os dois ficaram a sós. Coloco água, aqueço, ficou boa. Juro que ainda mato esse gato, mas é mentira. Cansada já percebo que além do mais o tempo se esgota, amanhã tem tudo de novo. Feliz, curto a compania do gato, a simplicidade das coisas a infinita beleza do mundo. Obrigada, por amar a minha realidade, Senhor!