sexta-feira, 8 de maio de 2015

Sobre Humanos










RESUMO
Este trabalho tem como objetivo falar sobre consumismo e as necessidades humanas dentro do contexto cultural de mundo globalizado em que vivemos e o quanto isso promete e ao mesmo tempo influencia negativamente para felicidade ou satisfação pessoal das pessoas.



Palavras chaveCONSUMISMO – GLOBALIZAÇÃO – CULTURA – INDIVIDUALISMO





O ser humano tem necessidades, do corpo, necessidades sociais, necessidade de reconhecimento, necessidade de auto realização e também tem necessidades espirituais. As necessidades que se supridas deixam os humanos mais satisfeitos são as necessidades sociais que é a necessidade de pertencer a um grupo, ter relações de afeto com outros humanos, a necessidade de ser reconhecido neste grupo, a necessidade da experiência mística que proporcione um sentido para a vida, uma filosofia da alma que o oriente. 
A necessidade dos humanos vem sempre sendo as mesmas, e muitos humanos tem consciência disso, pois são feitos muitos estudos a respeito do comportamento humano e sobre as necessidades vitais para a satisfação e o bem-estar do humano.  Já se sabe por exemplo através de pesquisas que os humanos mais consumistas, são mais ansiosos, inseguros, infelizes... Começo falando em humanos e sigo falando em consumismo, porque hoje, nós humanos vivemos uma “sociedade do consumo”, onde todas aquelas necessidades que falei no início são usadas para nos vender alguma coisa que promete ser uma ponte para nos unir as nossas necessidades e acabar com os nossos problemas. Se o humano precisa estar em paz, contemplar a natureza, há propagandas de tevê com belas paisagens e pessoas em posição contemplativa. Se o pobre humano é solitário, anônimo, de difícil convívio social e baixa auto-estima, para ele tem as redes sociais, os sites de relacionamento, onde ele pode ser o que quiser.  Ou quem sabe se ele possuir aquele celular que mostra na propaganda um cara super-descolado, no meio de uma festa com muitos amigos recebendo mandando torpedo para as gatinhas, quem sabe as coisas não mudam. As propagandas são os sonhos dos humanos revelados.
Toda essa propaganda diz respeito ao sistema financeiro capitalista, que visa o  lucro, onde parte dos agentes são multimilionários de todo o mundo, e moldam as necessidades das pessoas que mal informadas, são basicamente estimuladas para o consumo, vivendo dentro de uma caverna, como já descrevia Platão, através das necessidades do ”mercado” (que é muito influenciado pelos multimilionários e seu comportamento depende dos interesses, lucros e das perdas destes multimilionários. 
Este sistema vem se aperfeiçoando tanto que já existem debates se seria mesmo um sistema capitalista, já que é muito mais agressivo e lida com quantias muito mais altas, tão altas que podemos pensar em milhões, triliões, mansões, iates, helicópteros, aviões, e todos os símbolos distintivos que só dinheiro poderia proporcionar, como fama (pertencer a um grupo), como poder (ser reconhecido no grupo) e status (a auto realização).
A busca desenfreada por lucros vem alterando o comportamento das pessoas fazendo com que estas também se transformem em produtos, que sejam sempre compráveis, mantendo-se com uma aparência desejável , interessante para este mercado. Como diz Zygmunt Bauman:
Na sociedade de consumidores ninguém pode se tornar sujeito sem primeiro virar mercadoria, e ninguém pode manter segura sua subjetividade, sem reanimar, ressuscitar e recarregar de maneira perpétua as capacidades esperadas e exigidas de uma mercadoria vendável. “ Pág. 22

E em meio disso vivemos ainda procurando suprir as nossas necessidades que são tão simples e não necessitam de nenhuma tecnologia para serem supridas, mas quem nos explica isso? Os filósofos há muito tempo dizem que procuramos a felicidade nos lugares errados.  A tecnologia é boa, mas está sendo usada, vendida e pensada de uma forma que não supre realmente as necessidades do humano, só parecem suprir temporariamente.   Mas como disse as nossas necessidades são simples e simplicidade não gera lucro, não tem vendas, não tem produtos, não tem sistema capitalista, não tem “mercado”.  E o sucesso desse modelo se dá pelo convencimento das pessoas através dos meios de comunicação, através de pessoas muito ricas, que são admiradas, idolatradas, saem do anonimato e suas roupas são imitadas, sua trajetória, são “exemplos” de humano vencedor, o que todo o humano deve querer ser. Mas que talvez nunca chegue a ser, pois muitas vezes a riqueza vem de forma obscura e pouco conhecida, aquele que vê pensa que o outro ficou rico porque trabalhou muito para isso, por “mérito”, quando na verdade aquela pessoa utilizou e utiliza de outros meios fora do âmbito legal para obter sua riqueza.   Isso é outra questão que ao invés de fazer o humano feliz só o deprime, pois por mais que trabalhe, que estude nunca vai ter tanto dinheiro quanto um milionário que aparece na revista Forbes. As redes sociais também são perigosas para a satisfação humana, pois passasse a fazer parte de um mundo virtual, um não local, onde se pode ser o que quiser, comprar o que puder, porém sempre chega a hora que temos que mostrar a cara e decepcionar-se ou causar decepção, ou mais perigoso ainda quando se passa acreditar naquele mundo e viver numa fantasia se anulando do convívio social que vai suprir realmente suas necessidades, com relações de afeto de verdade, ser aceito no grupo de verdade, ter satisfação.   A rede social é vendida como meio de aproximar as pessoas, mas muitas vezes acaba por afastar, diluir as relações pessoais no espaço cibernético. As ideias individualistas também fazem parte deste mundo, que baseado em pesquisas de comportamento prega que casais que moram separados são mais felizes, porque  pessoas sozinhas consomem mais, este é só um exemplo.  Também temos a banalização do sexo e a mulher pode ser tida como objeto a venda e muitas passam a vida tentando agradar o “mercado”, mudando seu jeito de ser, seu corpo e gastando com muitos produtos milagrosos que prometem sucesso nas vitrines. 
De tanto se transformar para atender as necessidades do “mercado” para se produzir, inventar negócios, vender e ganhar mais, acaba se criando uma nova cultura como diz no livro de  Gilles Lipovetsky e Jean Serroy, A cultura mundo:
A cultura passa a ser “um setor econômico em plena expansão”, com excesso de oferta de bens mercantis e simbólicos que vão dos livros à moda, das inovações tecnológicas ao design, da música à gastronomia. ”

E a cultura do mundo se transforma numa cultura globalizada, sem fronteiras e seu objetivo não é outro senão uma sociedade universal de consumidores.  Não planeja suprir as necessidades das pessoas, apenas apontar mais necessidades para as pessoas como forma de preencher o vazio existencial e é de interesse que continue vazio, para que prossiga o sistema.  As pessoas estão desorientadas com os valores mudando rapidamente, quem não se atualiza está fora do grupo, quem não está na rede social não existe, quem está fora da moda pode ser tratado com indiferença e arrogância por um grupo. O dinheiro, uma profissão de sucesso, o bom carro, a boa casa, a mulher e o luxo são objetos, símbolos distintivos, assim como celulares, marcas de roupas, estilo, moda. E o que as grandes corporações e os que realmente ganham com o capitalismo esperam das pessoas é que continuem acreditando neste sistema.
Esse sistema trabalha para que essa cultura se reproduza cada vez mais e que gere mais lucros.  Nem que para isso seja preciso buscar mão de obra escrava de crianças em outros países, nem que precise destruir o meio ambiente, nem que precise que muitos morram envenenados por produtos químicos a cada ano que passa. Nem que para isso tenham que drogar toda a sociedade convencendo-a que a felicidade agora é vendida em pílulas.  Precisamos ser mais específicos com o que realmente nos faz falta, pois as vezes são coisas que não estão a venda. Antes de ir as compras deveríamos pensar nisso.



BIBLIOGRAFIA

CATTANI, Antônio David. Desmistificação da Riqueza, 2014.
LIPOVETSKY, Gilles e SERROY, Jean. A cultura mundo: Resposta a uma sociedade desorientada, 2008.
ZYGMUNT, Bauman. Vida para consumo,2007.




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